quarta-feira, 16 de junho de 2010

O CONSUMO DO FUTURO

Alimentos funcionais, orgânicos e voltados à indulgência vão ganhar mais espaço nas prateleiras

Por Elisa Campos
 Shutterstock
Empresas não podem mais dar as costas para a sustentabilidade

Quem trabalha com o segmento de alimentação pode esperar grandes mudanças nos próximos anos. Os alimentos orgânicos e funcionais, as comidas destinadas à indulgência e os produtos feitos de maneira sustentável devem ganhar cada vez mais as prateleiras e o gosto do consumidor. Estas três tendências devem mudar a maneira como nos relacionamos com os alimentos. É hora de a indústria, o varejo e os restaurantes se prepararem.

Impulsionado pelo aumento das doenças cardiovasculares, pela maior longevidade e um estilo de vida sedentário, o consumidor dá cada vez mais importância para a relação entre comida e saúde. “Não comemos mais cenoura, comemos betacaroteno. É como se o corpo fosse uma máquina que precisa funcionar com determinados combustíveis”, afirma Livia Barbosa, diretora de pesquisa do Centro de Estudos de Propaganda e Marketing da ESPM, no 1° Seminário de Tendências do Consumo Contemporâneo promovido pela universidade.

Os números comprovam a análise. Não à toa o mercado de produtos funcionais tem crescido 20% ao ano no mundo. O principal público do segmento são as mulheres das classes A e B que gostam de esportes e atividades em contato com a natureza. Neste cenário, os produtos que ganharão evidência são os diet, os light, as bebidas energéticas, os alimentos integrais e os pouco processados, entre outros.

Outra tendência marcante de consumo, segundo Lívia, é a prioridade dada à origem dos produtos, tanto do ponto de vista de respeito ao meio ambiente como da relação de produção, tendo a agricultura familiar e o comércio justo (fair trade) preferência. “Os alimentos agora ganham também uma dimensão ética e moral. Compramos o simbolismo por trás dos produtos”, diz Livia. Ganham com isso os orgânicos. E eles têm mostrado sua força. Na Alemanha, 80% da comida para bebês já é feita com esse tipo de alimento.


A terceira tendência é tratar o alimento de forma lúdica, na busca por prazer. “É a ética do ‘eu mereço’ e da indulgência. O foco é no gosto, no exótico”, afirma Livia. Cervejas especiais, vinhos, queijos, especiarias orgânicas e azeites estão entre os produtos que se beneficiarão.

Para a diretora, o sucesso dos produtos no futuro estará em saber associar bem todas essas tendências. “As mercadorias que souberem agregá-las terão maior potencial de mercado”.

Além do supermercado

Essas mesmas tendências devem afetar também o mercado de food service (de refeições para consumo dentro e fora de casa). O segmento, que conta com cerca de 1,3 milhão de estabelecimentos no país e faturou em 2009 R$ 420 milhões por dia, serviu em média 60 milhões de refeições por dia no ano passado.

Enzo Donna, diretor da ECD, consultoria especializada no setor, prevê o aparecimento de novos elementos para dar conta dessas mudanças no mercado de refeições. “Os restaurantes deverão criar algo como o Livro do Fornecedor, no qual os clientes poderão consultar a lista de fornecedores do estabelecimento”, diz.

Para Donna, uma nova profissão também deve surgir, a de ouvidor. O profissional ficaria como responsável por ouvir as reclamações dos clientes e dar esclarecimentos sobre o estabelecimento. Para atender a busca pela indulgência, Donna aposta no cardápio digital. “Já existem restaurantes na América Latina que estão usando o cardápio eletrônico. Cheguei a ver um que mostrava as fotos dos pratos, indicava qual era a melhor bebida para acompanhá-lo e informava quais eram os ingredientes usados”. Nada mal esse novo mundo, não?

Fonte: Época Negócio